Na iminência do debate eleitoral, a canalhocracia se esforça para grudar em Dilma Rousseff a mancha da corrupção - por Ciro Gomes — publicado 05/04/2014 05:43
Certa feita, fui à sala do presidente da
República comunicar que iria romper com ele e com seu partido. Denunciei, entre
outras razões, a corrupção sistêmica instalada em seu governo. Na data era o
Ministério dos Transportes. O responsável, um quadro do PMDB, claro. A resposta
me frustrou muito, mas nunca esqueci. “Ciro, um dia você vai sentar nesta
cadeira”, me disse, em tom acadêmico e apontando para a cadeira presidencial.
“E aí vai ver que o presidente que não contemporizou com o patrimonialismo,
caiu.”
Essa memória me voltou por esses dias com
muita força a propósito do esforço que a picaretagem tupiniquim faz para
imputar em Dilma Rousseff a tisna da corrupção. É, sem dúvida, a agitação
moralista a serviço da genuína imoralidade. Ou, em termos mais populares, são
os corruptos na tentativa de arrastar para o seu universo podre uma pessoa
clara e insofismavelmente decente.
Quem me acompanha sabe que não sou o maior
entusiasta do atual governo. O leitor mais atento conhece minha opinião sobre o
grande despudor com que o condomínio PT-PMDB – sejamos justos, partes grandes
dele – se entranha nas tetas públicas. Mas não é possível calar diante do
despudor com que a canalhocracia assesta suas baterias contra Dilma Rousseff na
iminência do debate eleitoral.
E a resposta dos governistas mais apressados
apenas provará ao povo brasileiro, especialmente aos jovens, aquilo que o
preconceito generalizado afirma para gozo dos plutocratas: não há vida limpa na
política brasileira. Vamos investigar também, além da roubalheira na Petrobras,
a roubalheira no metrô de São Paulo e a roubalheira no porto de Suape, em
Pernambuco. Teríamos assim, das duas uma: ou todos os três grupos que se
preparam para disputar a Presidência da República são igualmente sujos e
corruptos, ou, o mais provável, “vamos deixar disso” e arquivar tudo. Em um
caso e noutro, irresponsáveis, o que os senhores estão fazendo é enterrar a
jovem democracia brasileira.
Essa absurda compra de uma refinaria
sucateada nos Estados Unidos foi feita em 2006. Por que a mídia só trata desse
assunto agora? Aqui mesmo, neste espaço, em outubro do ano passado, falei mal
desse absurdo pela enésima vez sem que ninguém desse a menor bola. Por que
agora? Explico. Dilma resolveu confrontar o centro da máfia congressual na
Câmara dos Deputados, que eu conheço bastante bem e já denunciei mil vezes sem
a menor repercussão.
Em Brasília vive-se em uma ilha da fantasia
em que a ladroeira é segredo de polichinelo. Todo mundo sabe, por exemplo, como
a Petrobras contrata empresas de prestação de serviços e a quem elas pertencem.
E todo mundo sabia que Dilma Rousseff demitiu o grande “operador” petista
Sergio Gabrielli e por quê. Todo mundo sabia que foi ele quem comprou a tal
refinaria no Texas e que a minuta do “negócio” tinha sido levada ao Conselho de
Administração sem as cláusulas aberrantes. Todo mundo sabia que em 2008 Dilma
revelara toda sua indignação com o que se processara e, mesmo contra outra
cláusula aberrante, levou o Conselho a vetar a compra da outra banda
superfaturada, que, enfim, só se consumou por ordem da Justiça arbitral
americana. Por que só agora o escândalo em horário nobre da (sempre ela) Globo?
Por que não se esclarece com a ênfase devida que tudo aconteceu muito antes do
governo Dilma?
Atenção, Eduardo Campos e Aécio Neves, saiam
dessa armadilha. Ela comerá seus corações e fígados como comeu os de Fernando
Henrique Cardoso e os de Lula.Ou... chega de intermediários! Eduardo Cunha para presidente!
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/revista/794/moralismo-a-servico-da-imoralidade-6682.html
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