PIRANGY DOS TEMPOS IDOS |
MEMÓRIAS
DE UM TEMPO – PIRANGY
Ah! Como eu
queria!... Visitar a minha terra, ver meu povo, minha infância vivida,
relembrar minhas travessuras de crianças.
Comer o
feijãozinho, tomar “uns gorós”, rever os antigos conhecidos dos meus pais e
avós, afogar minhas saudades.
A Vila Malva, O Cajú,
O Réu, As Cruzinhas, onde sempre me banhava.
O desfile das
raparigas nas noitadas na rua do Cacau, vez por outra gracejadas por senhores
de bem da sociedade.
Assistir às
matinês, comendo pipoca “Lírio do Vale”, saboreando os amendoins torrados por
“Seu Henrique”, sentado nas cadeiras do Cine Teatro Hage. Bons Tempos!
Que maravilha aos
sábados! Ir à feira, na praça da feira com meu avô. Todo sábado se repetia o
mesmo ritual: Comprar carne fresca para fazer bife, lombo e ensopado, no
açougue do “Seu Mundinho”. Temperos verdes, verduras e farinha na feira livre;
bananas, laranjas d´agua e tangerinas na barraca do “Seu Lauzinho”.
Aos domingos,
acordar cedo, chegar na Igreja cedo para vestir os trajes de coroinha, para
ajudar os Frades nas missas dominicais. Ainda me recordo do ambiente cheiroso
de incenso, mirra e benjoim.
Era sagrado os
babas no campinho da igreja, quando Frei Raul barrava, a turma ia jogar a
pelada no campinho dos fundos da Escola de Comércio.
Existiam algumas
datas que marcavam a nossa infância, era como se vivêssemos em fábulas de
Monteiro Lobato. A gente sempre achava (na ocasião) que aqueles dias seriam
eternos: Os parques com as festas da Pitangueira, incluindo as divertidas competições
da figura folclórica de Júlio Marabá.
As famosas
micaretas, sempre aconteciam de abril a maio, era uma coisa fenomenal, com
desfiles exuberantes de lindos afoxés, blocos, escolas de samba. O desfile dos
trios elétricos, Castro Alves, Iemanjá, etc.
O bloco “Eles e Elas” coordenado por D. Maria de Amaurílio, “Secos e
Molhados” de Zequinha de Abdala, O Bloco de Flávio, a Escola de Samba – A
Califórnia de “Seu Zelito”, Os Bailes de Micareta no Clube Bahia e na Quadra
Municipal, as Bandas Brasas e Bispão comandavam as festas. A alegria era
contagiante!
As festas juninas,
tinham suas quadrilhas, arraiás, vitrolas tocando Luiz Gonzaga. Toda casa, por
mais humilde que fosse, tinha sempre as iguarias da época: Canjica, milho
cozido e assado, licor, arroz doce, pamonha, era sagrado – toda casa tinha uma
fogueira. “Seu Junot” era uma figura interessante, tinha prazer em comprar
bastante fogos diversificados, os mais caros ele exibia numa queima de fogos
exuberante, os mais simples, ele sempre agraciava doando às crianças cujos pais
não tinham condição de comprar. Era uma farra!
Quem se lembra da
VOZ DA CIDADE? Comandada por Clóvis que tocava: Cascatinha e Inhana,
Teixeirinha, Trio Irakitan e Valdir Azevedo.
Figuras
folclóricas que a própria trajetória de suas vidas, ajudaram a escrever a
história de um povo que por aqui passou.
Do cabo eleitoral
mais polêmico – GALO CEGO
Da beata mais
faladeira – NEMÚ PÃO
Do mendigo mais
engraçado – TUMIDA
Do atleta mais
resignado – MANO
Do locutor gago
mais engraçado – BUCHAREL
Do exemplo em
persistência em política – NERY RIBEIRO
Da mulher mais
vaidosa – ARCANJA
Do médico mais
devotado aos pacientes – DR. MONTIVAL
Das Previsões
Astrológicas – MIRO DO RATO
Do maior goleiro
de Futebol de Salão – NEGO DÃO
Do Poeta Cantador
– ANDORINHA
Do crítico por
natureza, – VALTER JACARÉ, sempre com suas tiradas, certa feita, no declínio
das riquezas dos cacauicultores, Jacaré dizia: “É aqui tem gente que hoje come
fato, e ainda quer arrotar presunto...”
Do barbeiro
devotado - ANICETO, que dizia para os seu fregueses:
“Quer arco, tarco ou quer qui móe?...”
Da Parteira
Itinerante - D. LAVÍNIA
Das Fobicas
de - MAGALHÃES
Dos fogos juninos
de -
Seu DANTINHAS
Dos baticuns no
terreiro de Zé Unide
Das estripulias de
“Cuscuz” o jeque estimado de Pão Quente
Da voz inconfundível
do seresteiro Zé Pinga
Dos Versos e Cordéis
do artista do povo Andorinha
Do alvejante e
diário traje de linho branco de Fernandinho Curió
Da elegância da
vestimenta diária (terno e Chapéu Prado) do Sr. Arestides (Pai de Cabé)
Das figuras
folclóricas de: “Mané Armuçado”, “Nininho Socó”, “Licurí” e “Nego Dão”.
Quem se recorda
dos festejos natalinos? Quase toda casa tinha um presépio, uma réplica do
nascimento numa manjedoura do menino Jesus. Era comum as famílias se
encontrarem na MISSA DO GALO.
O Progresso
alterou o rumo das coisas. Os valores mudaram e a juventude hoje prima por
outros conceitos diametralmente opostos aos que nos ensinaram os nossos avós. Os
antigos conceitos como: Respeito aos mais velhos, educação no trato com as
pessoas, honrar os compromissos, ser bondoso, praticar a caridade, pedir a
benção a seus pais, rezar, hoje, chamam isso de “Cafonice”. O sexo é visto como
coisa banal, o povo se afastou de Deus. Hoje o mais importante é a corrida
fustigante pela sobrevivência, a concorrência desleal do mundo capitalista. O
progresso trouxe inovações tecnológicas, a televisão entra nos lares e corrompe
as mentes das pessoas, ensinam às famílias como ser infiel, inescrupuloso,
indecente, desonesto, mau caráter e corrupto. É uma escola das qualidades ruins
do ser humano. O progresso trouxe ainda o computador, a Internet, a facilidade
da aprendizagem escolar, o acesso fácil às faculdades, a liberação da
sexualidade, os métodos contraceptivos, as comunidades de relacionamentos
sociais, mas, em contrapartida, trouxe também a desvalorização da nossa
cultura, o stress, a depressão, o isolamento das amizades presenciais, as
pessoas raramente se tocam, hoje, mandam torpedos, e-mails, as baladas, a
prostituição, o aumento indiscriminado do uso de drogas, a violência, a
estruturação precária das famílias, a falta de respeito, o desamor entre os
familiares, a ociosidade.
Ah! Quanta saudade
do meu tempo de criança. Eis que, eu era feliz e não me dava conta desse tão
sonhado fator - A FELICIDADE ATRAVÉS DAS
COISAS SIMPLES.
Luiz Cláudio \ 09.12.2005
2 comentários:
Obrigado por me fazer lembrar de coisas lindas do nosso passado, me emocionei,vc foi muito feliz no texto Luís (Lua) Cláudio, sem palavras fico eu, apenas gostaria humildemente de agradecer como cidadão itajuipense.
Grande abraço.
Saudades do serviço de alto falantes de clovis,e hoje só vemos berros nos malditos carros de som alimentados até pela AFAI
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